Duas grandes promessas do atletismo que despontam no paradesporto nacional são alunos do Centro Olímpico e Paralímpico de Brazlândia (COP). Os estudantes Fernando Aves Amaral, 14 anos, e Kemmilly Gabrielle Gomes de Alcântara, 16, emplacaram três medalhas de prata no primeiro dia da 13ª Paralimpíadas Escolares de 2019, em São Paulo. Os jogos começaram na terça-feira (19) e encerram-se amanhã (22).
Fernando, aluno do Centro Educacional 2 de Brazlândia, mostrou que não foi à toa que ganhou desde bebê o apelido de “menino com asas nos pés”. Apesar de não usar mais próteses nas duas pernas e nem correr na ponta dos dedos como antes, ele mostrou que sabe voar com os pés quando o assunto for atletismo. Tanto assim que emplacou o segundo lugar na prova de velocidade nos 75 metros, categoria T-35, com o tempo de 11 segundos e 62 milésimos. Hoje (21), compete novamente, nos 250 metros e no arremesso de peso. As outras duas medalhas de prata na competição foram de Kemmilly. Moradora da área rural de Brazlândia e aluna Centro de Ensino Fundamental 3, sagrou-se vice-campeã nas provas de arremesso de peso e nos 100 metros, ambas na categoria T-37. Nesta quinta-feira será a vez de disputar a prova dos 400 metros.
Esta é a terceira vez que Kemilly participa das Paralimpíadas Escolares. Ano passado foram três medalhas de bronze e, em 2017, outras duas: prata e bronze.
Passarinho – Kemilly nasceu com paralisia cerebral, que comprometeu a coordenação motora e atrofiou todo o lado direito. Precisou fazer tratamento por 15 anos no Hospital Sarah Kubitschek, onde teve grande evolução.
Devido a sua altura de 1,53m, foi chamada carinhosamente de passarinho pelos atletas da delegação. Antes disso, sofreu bullying na rua, ao ponto de querer se isolar do mundo. Foi aí que a mãe, Valdirene Ferreira, buscou em 2016, no COP Brazlândia uma ocupação para a filha no curso gratuito de Inclusão Digital. O talento da garota para o atletismo chamou a atenção da professora Sheila Avelino, da Coordenação de Pessoas com Deficiência (CPD), que a convidou para praticar esporte.
Com o professor Tiago da Rocha Moreira, Sheila treina Kemmily há 3 anos diariamente, na pista de atletismo da unidade esportiva da Secretaria de Esporte e Lazer em Brazlândia. Hoje a professora é acompanhante da atleta na competição. “Graças ao esporte aprendi a me dar valor e hoje, as pessoas que me xingavam pela minha deficiência hoje me respeitam porque também aprendi a impor respeito”, destaca Kemilly.
Asas nos pés – Garoto propaganda dos cartazes das Paralimpíadas Escolares distribuídos em todas as escolas públicas do DF, mais que ter talento para o esporte Fernando é um guerreiro. Nasceu aos cinco meses de uma gravidez prematura e de risco em Balneário Camboriú (SC). Enquanto a mãe, Elisângela Amaral, lutava pela própria vida em coma, o pequeno bebê, que mal cabia na mão do enfermeiro, fazia o mesmo. Displásico, teve paralisia cerebral.
Morando já no Distrito Federal, Fernando conseguiu atendimento na unidade do Hospital Sarah Kubitschek no Lago Norte e fez tratamento por 10 anos. Foi nessa idade que aprender a ler. Pisou pela primeira vez, em março deste ano, em uma pista de corrida de velocidade. Em agosto, Fernando disputou a primeira competição. Foi no COP do Gama nos Jogos Escolares Paraolímpicos do DF. A sua participação teve resultados surpreendentes. Ele conquistou três medalhas de ouro nos 75m rasos, 250m rasos e arremesso de peso, o que lhe garantiu vaga para os jogos nacionais.
Evento – Promovido pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), este ano é a maior edição da história dos jogos, com a presença de 1.220 estudantes dos 26 estados e do Distrito Federal de 12 a 17 anos. São disputadas 12 modalidades: atletismo, basquete em cadeira de rodas (formato 3×3), bocha, futebol de 5 (para cegos), futebol de 7 (para paralisados cerebrais), goalball, judô, natação, parabadminton, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas e vôlei sentado.
Talentos do paradesporto brasileiro já passaram pela competição, como os velocistas Alan Fonteles, ouro em Londres 2012, Verônica Hipólito, prata no Rio 2016, e Petrúcio Ferreira, recordista mundial nos 100m (classe T47); o nadador Talisson Glock, prata no Rio 2016; o jogador de goalball Leomon Moreno, prata nos Jogos de Londres e bronze no Rio 2016; a mesa-tenista Bruna Alexandre, bronze no Rio 2016, entre outros.